Dor

As garras cravam o coração
que se debate, em vão
que chia, que agoniza
e lentamente se contrai
em estertor de morte
e convulsivamente tenta guardar
em seu interior sangrento
restos do amor estraçalhado
pedaços de sonhos moribundos
mas o sangue escorre
e ele se abre
como uma gaiola
deixando voar para sempre
tudo que foi um dia
escorrendo pelos vãos dos dedos
pelo torpor das mãos
que se abrem para libertar
o último sopro
e então só fica a dor

(escrito por Zailda Coirano)

Alma inquieta

Grita, alma inquieta
brama, uiva e arqueja
contorce com a chaga aberta
na tua prisão dourada
gane, alucinada
ergue as mãos e encontra o nada
ouve o pio da coruja
ouve a voz do furacão
que habita em ti
que rasga teu seio
e chafurda na tua carne
inerte, pisoteada
vagueia no passado
ronda pela noite
e a madrugada
há de te achar assim perdida
nua, pagã, abandonada

(escrito por Zailda Mendes)