Vazio

Que pare a música
que o sol deixe de brilhar
choro por meu amor perdido
que se foi com o luar

que os grãos de areia, dispersos,
se percam no mar
que o oceano seque
que a gaivota pare de voar

que as estrelas se apaguem
e para sempre reine a escuridão
que reine esse vazio
que tenho no coração

que se acabe o mundo
que se congele o ar
que o céu inteiro desabe
que a terra deixe de girar

que as gotas cristalizem
que se guarde silêncio eterno
que se queimem as matas
que se abra o inferno

que se derreta o sol
que se esfacele a lua
que as trevas da noite
rastejem pela rua

que seque a luz dos meus olhos
que seja cego meu olhar
meu amor foi embora
para nunca mais voltar

(Escrito por Zailda Coirano)

Espera

Tenebrosa noite de olhar castanho
que me traga em seus braços
mal cai o sol
a ver-te, qual fantasma em sonhos
assombrando-me a escuridão do quarto
levantando-se ante mim
em monstruosas vagas de saudade
doce quimera
que me alucina
em vão estendo a mão
tento alcançar-te
mas já te afastas, galopante
em meu pesadelo de loucura
minha alucinada espera de paixão
minha carne que te reclama
se contorce
em sonhos, pesadelos
nefastos, dolorosos
de entrega e espera
lábios, mãos, peles se confundem
em fantasmagórica agonia

(Escrito por Zailda Coirano)

Roaming

Today´s merely another day
Life’s like a long way
I’ve got only the sorrow
days without tomorrow.
Coz now I see
no one anymore for me.
I have nothing below the sky
no more tears to cry
just a lonely heart
nothing more to start.

Sadness hurts my soul
coz now I know
you won’t be here,
nothing more to fear.
Now I realize
no more faults to apologize
coz you weren’t there
coz you aren’t anywhere.

I’ve got just the sharp pain
you’ll never be there again.

(by Zailda Coirano)

Dor

As garras cravam o coração
que se debate, em vão
que chia, que agoniza
e lentamente se contrai
em estertor de morte
e convulsivamente tenta guardar
em seu interior sangrento
restos do amor estraçalhado
pedaços de sonhos moribundos
mas o sangue escorre
e ele se abre
como uma gaiola
deixando voar para sempre
tudo que foi um dia
escorrendo pelos vãos dos dedos
pelo torpor das mãos
que se abrem para libertar
o último sopro
e então só fica a dor

(escrito por Zailda Coirano)

Neblina

Neblina insana baixa sobre a noite
que se fez mais cedo na tua ausência
vem sobre o meu peito como açoite
e a tempestade cai na alma sem clemência

Noite extrema que clama em furor
estupor de pranto lavado em brisa
chaga que arde no meu céu sem cor
se instala em meu peito que agoniza

Oh, ausência atroz e amargurada
vazio que me entorpece em ais
me deixa a vagar pela madrugada
bebendo na luz profana dos mortais

Olhar vazio, lágrima torrente
a espera insana finalmente exala
último suspiro de chama latente
a esperança, abandonada, estala

(escrito por Zailda Mendes)

Espírito Errante

Vai, espírito alucinado
que abandona minha carcaça
em véus de agonia e êxtase
em suspiros e ais marcados
por trêmulas lágrimas
e bêbados sorrisos,
lancinantes feridas expostas
ao júbilo e ao prazer
dos inimigos, torpes serpentes
que esmago sob a sola dos pés
enquanto avanço
a alma nua, o vulto pálido,
o corpo esquálido e putrefato
as córneas vazias
o peito inerte
abrindo os portais do inferno
de onde as chamas me lambem
e me sopram a pele desnuda
o hálito ardente
a carne lacerada
o sangue pisado, coalhado
ferido, finado, escoado, acabado.

(escrito por Zailda Mendes)