Último suspiro

Golpeia com a lâmina voraz e reluzente
meu peito que aqui jaz, dormente
estraçalha a carne com a navalha fria
minha entranha onde um coração havia.

Esparrama em mim o fel que te habita
confundindo-se ao sangue que regurgita
em ondas de indizível agonia
sombra apenas do que foi um dia.

Escancara a chaga, besta insana,
aplaca o ódio que de ti emana,
suga, sôfrega, meu último ai
enquanto a vida de mim se esvai.

(escrito por Zailda Mendes)

Soluço Negro

Engole o soluço negro que te arrepia
e com tenazes garras te dilacera
o peito, em indizível agonia
Beija a serpente que te habita e espera

Aguarda o raio que desce, lancinante
e há de partir tua alma ao meio
teu vulto, uma chaga transbordante
de fel, retorna de onde veio.

Volta vencida, besta repugnante
ao seio que te acolhe, inferno delirante
em negros abismos de seres colossais

Arrasta, enfim, tua alma errante
a dor flutua, contorce teu semblante
e te sugam as vísceras os anjos infernais.

(escrito por Zailda Mendes)